A vida real não cabe em um "story" 4c472f

Imagem ilustrativa. w5os
"A vida real é cheia de sombras. Há dias de incerteza, de vazio. Nem tudo é irável ou compartilhável' 5g6a4z
MÔNICA BASTOS | Acordamos e, antes de escovar os dentes, abrimos o Instagram. E lá estão elas: as vidas perfeitas, o café da manhã digno de revista, o treino finalizado às seis, a frase sobre gratidão. Tudo tão bonito, tão inalcançável.
Olhamos para nós, pijama amarrotado, corpo cansado de uma noite mal dormida e nos perguntamos: onde estamos errando?
Estamos vivendo um tempo estranho, em que parecer feliz se tornou mais importante do que, de fato, ser. Como se não bastasse viver, é preciso provar, registrar e mostrar. De preferência, com um toque de superação, afinal, quem não ama uma história com final inspirador?
Nas redes sociais, somos convidados a apresentar uma versão editada da vida, tudo bem iluminado e uma legenda espirituosa. Trabalhar muito, comer saudável, ter uma vida social agitada e, claro, mostrar tudo com leveza, como se fosse natural.
Mas não é. É performance.
A ideia de que precisamos estar sempre bem, se transforma em uma atuação. Essa atuação contínua é exaustiva e desumaniza a experiência de viver. Além disso, custa caro.
Mesmo sem envolver dinheiro, às vezes, há um alto preço emocional: a pressão por parecer feliz, o enfraquecimento da autoestima. A conta vem em forma de cansaço, de comparação, de insegurança. A cada story que vemos, surge a dúvida: Por que nossa vida não parece tão empolgante quanto a dos outros?
A comparação com aquilo que estamos vendo em seus "palcos" pode minar a nossa autoestima e gerar sentimentos de inadequação. Pode causar a impressão de que estamos fora do padrão.
Aos poucos, nossa autoestima vai se corroendo, sob a visão de que, se não está tudo bem o tempo todo, é porque algo está errado conosco. Isso alimenta transtornos como ansiedade, esgotamento emocional e culpa.
E assim, pouco a pouco, vamos nos desconectando de quem somos. amos a nos medir por um padrão irreal, onde não há espaço para dias cinzentos, dúvidas existenciais ou para a tristeza que sem motivo bate de vez em quando.
Mas a vida real não cabe em quinze segundos, não precisa de um filtro para ser aceita. Ela é feita de manhãs lentas, de fases difíceis e recomeços. De abraços apertados que não se postam, de conversas sem legenda, de vitórias que ninguém vê.
A vida real é cheia de sombras. Há dias de incerteza, de vazio. Nem tudo é irável ou compartilhável. Nossa vulnerabilidade não é um defeito, é um traço humano.
Por isso, precisamos reaprender a viver fora das câmeras, da vitrine. Resgatar o valor das conversas sem likes e dos encontros que não viram stories.
É possível estarmos bem sem precisarmos parecer. É possível nos realizarmos em silêncio e nos curarmos sem plateia.
Somos humanos antes de sermos personagens. E não há nada de errado em ter dias sem brilho. Porque viver, de verdade, é isso: imperfeito, bagunçado e real.
E a vida vivida com verdade é sempre mais bonita do que qualquer filtro pode mostrar.
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